user 16 de Abril, 2021

Jardim da minha rua e do meu coração traz disciplina e motivação aos alunos de Rabo de Peixe

Tudo começou quando os professores perceberam que era necessária uma solução para os alunos mais desconcentrados e menos disciplinados. Nesse sentido, a Escola EB1/JI D. Paulo José Tavares, em Rabo de Peixe, criou o projecto “Jardim da minha rua e do meu coração”, no qual participam todos os meninos da escola.
Esta é uma iniciativa realizada em parceria com a Vidaçor, uma associação de Rabo de Peixe, sendo certo que Ana Almeida, coordenadora da escola, afirmou que tudo partiu daquela associação, “por terem condições para se candidatar a outros recursos necessários para por o projecto em andamento”. 
A professora explicou-nos que “no ano lectivo de 2017-2018 surgiram algumas necessidades na escola relativamente ao controlo do comportamento de um grupo de alunos, que se encontrava ao nível do segundo ano, e da sua disciplina e indisciplina. As condições de trabalho na sala de aula não eram muito fáceis, pelo que foi necessário criar para estes alunos outro tipo de interesses e de actividades que os cativassem um pouco mais e ajudassem a desenvolver as competências sociais, bem como as ecológicas e ambientais, sendo esta uma eco escola ”.
Nesse sentido, as aulas de yoga dadas por Vânia Cunha tornaram-se uma realidade nesta escola, uma vez que esta actividade “ajuda nas competências sociais, na formação pessoal e social e no respeito pelos colegas e pelo ambiente”. Por outro lado, Ana Almeida conta que a isso associaram “a intervenção a plantas e jardins, no sentido de conjugar estas duas áreas para que as mesmas ajudassem as crianças a terem mais calma e a respeitarem-se um pouco mais”.
Revela a professora que a reacção dos alunos foi desde sempre bastante positiva. “Estas são áreas de que eles gostam, além do que a dinamização do yoga tem sido feita também através de jogos e de actividades sociais; o contacto com os jardins e com a natureza possibilita sair uma parte do dia da sala de aula e acompanhar o crescimento das plantas e a beleza que os jardins podem fornecer aos alunos.”
Porém, no início do projecto fazer yoga não foi assim tão fácil. “Para fazer yoga é necessário relaxar e no início do projecto isso era impossível, tornando as sessões muito difíceis. Já estamos no final do segundo ano do projecto e nota-se que os alunos conseguem realmente envolver-se, em 45 minutos, na prática do yoga, na atenção e concentração necessárias para este exercício.”
Com orgulho, a coordenadora revela que “o resultado do jardim que está na nossa escola é fruto do trabalho de todos estes alunos que começaram há dois anos este projecto”.
Certo é que o yoga trata o coração dos meninos para que eles possam, saudavelmente, tratar do jardim da sua escola e dos outros que ficam à volta da mesma e nas ruas das suas casas. 
Tudo começou pela mão deles, sendo que trataram – desde o início – da limpeza e da escolha do espaço para o desenvolvimento do projecto. “Fez-se um concurso de desenhos, a partir do desenho vencedor realizou-se uma maqueta e foram escolhidos materiais ecológicos para o efeito. Como somos uma eco escola, tínhamos que usar material de desperdício que pudesse ser aproveitado; a maior parte das turmas optou, por exemplo, pelas garrafas de plástico para delimitar os canteiros, depois de pintadas. Depois fez-se a escolha das plantas e o estudo das mesmas para que pudessem ser plantadas e tratadas.”
Já fora das escolas, as “turmas envolvidas no projecto foram para a rua escolher outros locais para desenharem outros canteiros e transmitirem a ideia de que é preciso tratar da nossa rua e do nosso coração na comunidade educativa envolvente”.
A escola tem, neste momento, 390 alunos e Ana Almeida garante que todos estão envolvidos no projecto, incluindo os mais pequenos do jardim-de-infância. Todas as turmas estão convidadas a ir para a rua descobrir mais jardins a trabalhar, mas a falta de recursos humanos limita um pouco esta realidade, sendo que são os alunos do terceiro ano que estão mais direccionados a fazer este trabalho. Todos os outros meninos têm a responsabilidade de manter cuidado o jardim da própria escola. 
A professora acredita na eficácia desta iniciativa e garante que a “aposta é mesmo na formação pessoal e social dos alunos, uma vez que estas competências, que já deviam nascer connosco ou vir de casa, são as que estão menos desenvolvidas”. Por isso, Ana Almeida alega que é necessário “tratarmos de nós, do planeta e sair um pouco das tecnologias, dos computadores, dos sofás e da apatia do dia-a-dia para percebermos que temos que fazer algo mais pelo ambiente e pelo planeta terra. Estas acções são pontuais, mas enriquecedoras no sentido de tornarem estes meninos melhores pessoas”.
A intenção desta escola é que o projecto se prolongue nos próximos anos lectivos e até por outras unidades escolas. “O nosso parceiro principal é a Vidaçor, mas também temos alguns voluntários que são muito importantes para que o projecto tenha continuidade. Até gostaríamos de alargar as aulas de yoga, as quais aceitam 80 alunos de momento, porque é entre o primeiro e o segundo anos que se evidenciam as maiores dificuldades sociais e conflitos, e esta é uma ajuda grande para a resolução dos mesmos”.
Por outro lado, adianta que “todos os projectos que se desenvolvem na escola com sucesso deviam estar naturalmente alargados aos alunos de Rabo de Peixe e a todos outros. Contudo, estes projectos só resultam com o interesse das pessoas, neste caso dos professores, técnicos e auxiliares, e não podem ser só os alunos a querer. Primeiro têm que ser os adultos a querer abraçar estas iniciativas que envolvem mais horas na escola e trabalhar um pouco mais, porque tudo isso dá muito trabalho”, ressalva.
Ana Almeida destacou ainda a primeira acção deste projecto, a qual envolveu a vizinhança. “O primeiro grupo de alunos que fez a sua acção no projecto preparou uma carta de intenções a pedir ajuda à vizinhança que embelezasse e protegesse um pouco mais a natureza. Parece-nos que as pessoas abraçam o projecto, depois de o compreenderem, percebem que somos uma comunidade e que trabalhamos todos para o mesmo.”
Nesta perspectiva, “no dia em que o jardim foi inaugurado tivemos a comunidade a visitar a escola e as pessoas ficaram espantadas com o que os alunos conseguem fazer. As mudanças da consciência social e ambiental demoram tempo, mas nota-se mais alguma preocupação com o plástico e se calhar em vez de vermos tanto lixo no chão haverá mais alguma reutilização”, explica a coordenadora. 
O importante agora é, depois de avaliar o projecto, “perceber se a consciência dos pais e dos meninos realmente mudou ou se foi só neste momento para fazer jardins. Porém, esperamos que a mudança tenha mesmo acontecido”; confessa. 
Concluindo, a professora diz satisfeita que os alunos têm uma outra forma de estar e de ser desde que o projecto começou. “Nota-se mais vontade de eles estarem uns com os outros, de se respeitarem, de desenvolverem esta própria ligação com a terra e com a meditação, conseguindo até desenvolver estratégias individuais. Eles até pedem para sair da sala quando se estão a sentir menos bem; ou seja, aprenderam a lidar com os seus sentimentos o que é muito importante para nos relacionarmos bem com os outros.”
Ana Almeida aproveitou o ensejo para agradecer a acção dos professores Rui Tavares e Vânia Cunha, da Vidaçor, pois “nunca se cansaram e são os promotores e dinamizadores deste projecto; sem eles isso não tinha sido possível. Agradecemos também todo o apoio do conselho executivo da escola, da junta de freguesia e da câmara municipal”. 
Agradecimentos feitos, ficou a sensação da felicidade que é criar numa escola motivos diferenciados pelos quais os meninos têm vontade de lá ir todos os dias para aprenderem e crescerem pessoalmente.

Link da Notícia

 

TEM ALGUMA DÚVIDA? FALE CONNOSCO